Morre aos 58 anos Hugo Chávez, presidente da Venezuela
Ele lutava contra um câncer desde 2011 e passou por tratamento em Cuba.
Governante foi um dos mais destacados e controversos da América Latina.
Do G1, em São Paulo
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, morreu na tarde desta terça-feira (5), aos 58 anos, na capital Caracas.
A morte ocorreu às 16h25 locais (17h55 de Brasília), segundo o
vice-presidente Nicolás Maduro, herdeiro político de Chávez, que fez o
anúncio em um pronunciamento ao vivo na TV.
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"Às 16h25 locais (17h55 de Brasília) de hoje 5 de março, faleceu o
comandante presidente Hugo Chávez Frías", disse Maduro, emocionado.
Chávez lutava contra um câncer desde junho de 2011 e, após realizar um
tratamento em Cuba contra a doença, havia voltado ao país natal em
fevereiro deste ano.
Chávez foi um dos mais destacados e
controversos líderes da América Latina. Desde que assumiu o comando da
Venezuela, em 1999, o militar da reserva promoveu mudanças à esquerda,
na política e na economia. Ele nacionalizou empresas privadas, atribuiu
ao Estado atividades essenciais, além de mudar a Constituição, o nome, a
bandeira e até o fuso horário do país (1h30 a menos que o horário de
Brasília).
Chávez foi reeleito pela primeira vez em 2006, com mais de 62% dos votos, e novamente em 2012, com 54%.
Ele tentou chegar ao poder pela primeira vez em 1992 através de uma
tentativa fracassada de golpe de Estado, que fez com que fosse preso. Em
2002, já no comando do país, sofreu um golpe de Estado que o tirou do
poder por quase 48 horas. Foi restituído por militares leais, com a
mobilização de milhares de seguidores.
A Venezuela, que é membro da
Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), possui uma
economia dependente das exportações do combustível, tendência que Chávez
queria mudar com a entrada do país no Mercosul. O país tem 30 milhões
de hectares de terras cultiváveis, mas importa até 70% dos alimentos que
consome. A população é de quase 29 milhões de habitantes.
Doença
Desde que foi reeleito mais uma vez, em outubro de 2012, o líder
venezuelano apareceu em público poucas vezes, a maioria delas para
liderar conselhos de ministros no Palácio de Miraflores. Chávez também
deixou de utilizar frequentemente sua conta na rede social Twitter.
A
falta de informações e detalhes sobre a doença e a presença menos
frequente de Chávez em eventos desde que anunciou a luta contra o câncer
alimentaram os rumores de que seu estado de saúde poderia ser mais
grave do que o governo queria divulgar.
Em 10 de junho de 2011, a
imprensa venezuelana noticiou que Hugo Chávez havia por uma cirurgia de
emergência em Cuba devido a um problema na região pélvica. Rumores sobre
a doença circularam nos dias seguintes, mas o governo venezuelano negou
que se tratasse de um tumor.
Em 30 de junho, no entanto, o
presidente confirmou que havia sido operado em razão de um câncer. Não
foram revelados maiores detalhes sobre a doença.
Chávez voltou à
Venezuela dias depois e voltaria a Cuba nos meses seguintes para sessões
de quimioterapia. Em agosto de 2011, apareceu com o cabelo raspado: "É
meu novo visual", disse.
Em outubro do mesmo ano, após fazer exames
médicos em Cuba, o governante declarou-se livre do câncer. "O novo
Chávez voltou [...] Vamos viver e vamos continuar vivendo. Estou livre
da doença", afirmou, fardado e eufórico.
Hugo Chávez chegou a dizer
que o câncer, que atingiu cinco líderes sul-americanos – entre eles a
presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula – teria sido induzido
pelos Estados Unidos. "Não seria estranho se tivessem desenvolvido uma
tecnologia", disse
Em fevereiro de 2012, ele anunciou que seria
operado novamente por uma lesão na mesma região em que teve o tumor
removido. A cirurgia também ocorreu em Cuba e, posteriormente, ele
passou por tratamento de radioterapia.
Em julho, quando era
candidato à reeleição, o presidente voltou a dizer que havia vencido a
batalha contra o câncer. Aos opositores, Chávez dizia que seus problemas
de saúde não o impediriam de vencer a eleição que poderia mantê-lo no
poder até 2019.
Em novembro, após vitória nas urnas, a Assembleia
Nacional autorizou a viagem de Chávez a Cuba para receber terapia
hiperbárica, um tratamento complementar comum em pacientes que receberam
radioterapia.
Em dezembro, Chávez anunciou que voltaria a Cuba para
ser submetido a uma nova cirurgia devido ao retorno do câncer. Ele
designou o vice, Nicolás Maduro, como o eventual sucessor se não fosse
capaz de voltar ao poder. Foi a primeira vez que Chávez admitiu,
publicamente, que a doença poderia impedi-lo de seguir à frente do país.
Após a realização da cirurgia, foi Maduro quem passou a fazer relatos
do estado de saúde de Hugo Chávez. A oposição criticava o governo,
acusando-o de sonegar informação sobre a real situação do mandatário.
Chávez não conseguiu tomar posse de seu novo mandato, em 10 de janeiro.
Após disputa judicial, o Tribunal Superior de Justiça entendeu que a
presença dele não era necessária, e que uma posse formal poderia ocorrer
em outra data a ser marcada posteriormente.
Em 18 de fevereiro,
surpreendendo a todos, Hugo Chávez anunciou, pelo Twitter, que estava
voltando à Venezuela. Ele foi diretamente para um hospital militar na
capital Caracas.
Trajetória
Hugo Rafael Chávez Frías nasceu em
28 de julho de 1954, em Sabaneta, estado de Barinas, no oeste do país.
Filho de professores, ele casou e se divorciou por duas vezes. Tem
quatro filhos – duas mulheres e um homem do primeiro matrimônio, e uma
menina do segundo – e três netos.
Militar reformado, Chávez entrou
para a política depois de uma fracassada tentativa de golpe de Estado
que o levou à prisão, em 1992.
Desde que venceu as primeiras
eleições presidenciais, em 1999, com a promessa de pôr fim à
"partidocracia corrupta" em que o governo havia se transformado e de
distribuir a renda do petróleo entre os setores excluídos da sociedade, o
presidente assumiu um estilo único de fazer política.
Ele chegou ao
poder em fevereiro daquele ano como o 47º presidente da Venezuela,
jurando sobre uma Constituição que ele afirmou estar "moribunda".
Entre suas primeiras decisões, proibiu que o Departamento Antidrogas dos
Estados Unidos fizesse sobrevoos no país e, anos mais tarde, em 2008,
expulsou o embaixador americano.
No final de 1999, alcançou o seu
objetivo de mudar a carta magna da Venezuela e iniciar o que chamou de
"Revolução Bolivariana".
Crises políticas
Chávez enfrentou
momentos difíceis no poder, como quando, depois de vários dias de greves
nacionais, em 11 abril de 2002, sofreu um golpe de Estado que o tirou
do poder por quase 48 horas. Após tumultos e 19 mortes, o líder
venezuelano foi restituído ao cargo por militares leais, com a
mobilização de milhares de seguidores pelas ruas de Caracas.
Naquele
mesmo ano, uma greve liderada por trabalhadores, empregadores e
contratados da estatal de petróleo de Venezuela paralisou a indústria
vital para o país. A greve prolongou-se até fevereiro de 2003 e derrubou
a produção petrolífera, impactando com força a economia.
Os
trabalhadores criticavam a implantação do projeto de "grande revolução
bolivariana", que atingiu proprietários de terras, produtores de
combustíveis e bancos. O termo é referência ao líder revolucionário
Simón Bolívar, responsável pela independência de vários países da
América do Sul, em quem Chávez dizia se inspirar.
Em 2004, após
violentos protestos da oposição que deixaram outros nove mortos, Chávez
submeteu-se novamente a um referendo público que o confirmou no poder.
Reeleição em 2006
Em 2006, em nova eleição presidencial, ele obteve 62% dos votos contra o
opositor Manuel Rosales. No novo mandato, Chávez declarou a
transformação da Venezuela em um Estado socialista.
Durante este
período, o militar reformado iniciava seu projeto de estatização da
maioria das empresas venezuelanas, em setores cruciais como
telecomunicações e eletricidade. Em maio de 2007, a Radio Caracas
Television, emissora mais antiga da Venezuela, encerrou suas
transmissões após não ter sua concessão renovada pelo governo.
Iniciava-se também sua tentativa de reforma na Constituição, que
permitira sua reeleição por tempo indefinido. Após uma primeira derrota,
ocorrida no final de 2007, o projeto foi aprovado em referendo popular
em fevereiro de 2009.
Em 2010, Chávez sofreu sua primeira derrota
nas urnas, em eleições legislativas. Apesar de ter obtido a maioria dos
votos, seu partido não conseguiu dois terços da Assembleia Nacional
venezuelana, objetivo necessário para facilitar a aprovação dos projetos
do governo.
Com uma manobra política, no entanto, conseguiu aprovar
um dispositivo que o permitiu governar por mais seis meses por decretos
de emergência.